Projeto de qualificação de mulheres trans e travestis chega ao fim em Rondonópolis

14/06/2019 - Um ano e quatro meses após o seu início, chegou ao fim, no dia 6 de junho, o projeto “Realizando Sonhos. TRANSformando Vidas", desenvolvido pelo MPT em parceria com a Obra Kolping, em Rondonópolis. Foram oferecidos cinco módulos: cabeleireira, maquiagem, design de sobrancelha, depilação e massagem. Além dos certificados de conclusão de curso, alunas que solicitaram a retificação de nome e gênero receberam os novos documentos, providenciados pela Defensoria Pública da cidade.

A empregabilidade da população trans é uma das prioridades do MPT. Quando criou o projeto, o procurador do Trabalho Elcimar Bitencourt ponderou que a “finalidade é ajudar as alunas a serem profissionais liberais no futuro e abrirem seu próprio salão de beleza, sem dependerem de uma empresa para contratá-las. Ou seja, o foco central do curso é o empreendedorismo”.

“A discriminação contra travestis e transexuais é ainda maior do que a sofrida pelas outras pessoas LGBT. Uma travesti possui expectativa de sobrevida de apenas 35 anos de idade, justamente porque a falta de oportunidade acaba levando para o universo da prostituição, drogas e sofrendo violência. São raras as que conseguem escapar com vida depois dessa idade. Não bastasse isto, as empresas ainda relutam em contratar pessoas trans e, quando o fazem, não possuem uma cultura organizacional de inclusão das referidas trabalhadoras. Ir ao banheiro, por exemplo, se torna um martírio. A utilização do nome social no crachá também é outro exemplo de dificuldade. Até mesmo nos órgãos públicos (postos de saúde, hospitais, fóruns, etc.), a pessoa trans ainda tem dificuldade de ser aceita pelo nome social”, disse, na época, o procurador.

Vitória

Na cerimônia de entrega dos certificados, o procurador do Trabalho Leonardo Acosta, que conduziu o projeto em sua fase final, parabenizou o grupo pela conquista. “Em nome do MPT em Rondonópolis, do dr. Elcimar e dra. Vanessa, que me antecederam, ficamos muito felizes em ver que vocês conseguiram. Parabéns, é uma satisfação imensa. É esse tipo de projeto que faz a gente todo dia ir trabalhar. (...) E embora estejamos no fim de um ciclo do ‘Realizando Sonhos, Transformando Vidas’, é um começo de uma nova vida para vocês, com um pouco mais de cidadania. Espero que aproveitem e tenham sucesso no que fizerem”.

Em nome das formandas, a aluna Graziele Miranda prestou uma homenagem à equipe do projeto. Em seu discurso emocionado, ela enalteceu o papel da professora Iranildes Moura nesse processo. “Algumas pessoas marcam a nossa vida, deixam mensagens que nunca se apagam das nossas mentes, que se tornam aprendizado e estarão para sempre conosco. (...) Professora, você foi uma das pessoas mais marcantes em nossas vidas, alguém que fez repensar meu lugar no mundo. Eu a admiro profundamente e tenho grande estima pela sua pessoa, obrigada por se dedicar ao seu trabalho com tanto entusiasmo e verdade, você faz os seus alunos se sentirem especiais, pessoas capazes de alcançar os seus sonhos. Por isso você é a nossa eterna professora”.

A professora Iranildes lembrou, durante sua explanação, do papel nobre do docente: o de professar a fé. “Desde ontem elas estão me fazendo chorar. Vou sentir muita falta, foram mais de 13 meses junto com essa turma. Quero parabenizar pelo esforço porque não foi fácil. As meninas têm uma rotina muito dura, e mesmo assim se esforçaram e concluíram. (...) Eu fico feliz pela conclusão dessa etapa na vida de vocês. Eu sei que esse projeto foi um divisor de águas não só na vida de vocês, como minha, da instituição, então façam valer a pena”, complementou.

Falando pelo Grupo de Apoio aos Travestis e Transexuais de Rondonópolis (GATTRS), Kelly Resende afirmou que o sentimento é de missão cumprida. “Foi difícil, foi, teve muitas coisas que só nós do grupo sabemos para estar aqui, então é uma vitória. Hoje é o dia delas, hoje elas estão preparadas para o mercado de trabalho, para serem empreendedoras”.

Durante o evento, o defensor público Vinicius William Ishy Fuzaro, ao entregar os novos documentos a quatro das 10 alunas que optaram pela mudança nos registros civis, elogiou a equipe do projeto e contou que se encantou com a iniciativa. “É uma burocracia ainda muito grande para conseguir fazer a mudança e a gente tem uma equipe e conseguiu ajudar. Eu disse que não poderia prometer que iríamos conseguir, mas prometi que faria tudo que estava ao nosso alcance para conseguir. É um projeto muito bonito e participar disso só engrandece ainda mais nós mesmos”, declarou.

A coordenadora nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade) do MPT, Valdirene de Assis, agradeceu o convite para retornar a Rondonópolis e celebrar a conclusão do projeto. “É uma honra para mim. Agradeço a vocês por terem permitido que esse momento acontecesse. Eu estive aqui no ano passado com o dr. Elcimar, que fez a destinação de recursos para que esse projeto se realizasse. Essa destinação que o MPT faz é o nosso dever todas as vezes que nós estamos atuando nos processos e quando nós apenamos as empresas. O valor que elas têm que pagar como multa ou como dano moral tem que voltar para a sociedade. Esse dinheiro não é do governo, não é do MPT, ele é da sociedade, e ele volta assim, em projetos sociais”, finalizou.

Veja as fotos do evento aqui.

Informações: Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT)

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