Projeto de pesquisa que avaliará impacto dos agrotóxicos na Bacia do Juruena tem início em MT

12/02/2015 - O Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT) e o Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato Grosso (Neast/UFMT) realizaram, na semana passada, de 02 a 07 de fevereiro, uma série de palestras e reuniões nas cidades de Campo Novo dos Parecis, Sapezal e Campos de Júlio para promover o projeto de pesquisa "Avaliação da Contaminação Ocupacional, Ambiental e Alimentar por Agrotóxicos na Bacia do Juruena". 

Para essa expedição, foram designados seis pesquisadores da universidade, entre eles químicos, biólogos, médicos e agrônomos. Segundo o procurador do Trabalho Leomar Daroncho, que acompanhou a equipe, o objetivo não foi apenas o de coletar material para a pesquisa, como água e sedimentos, mas também de alertar sindicatos dos trabalhadores rurais, profissionais da saúde, professores e a comunidade mais vulnerável sobre os prejuízos da exposição aos agrotóxicos.

Além das nascentes do rio Juruena, o grupo visitou escolas urbanas e rurais, fazendas, postos de recolhimento de embalagens de agrotóxicos e uma empresa de aviação agrícola. “Ao todo, percorremos cerca de dois mil quilômetros”, conta Daroncho.

O procurador, que também coordena o Fórum Mato-grossense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, falou sobre a experiência de percorrer o interior do estado e ter contato direto com a impactante realidade encontrada no campo. "Saber um monte de informações sobre o consumo de veneno não é nada perto da experiência direta com a realidade. A falta de dados confiáveis e a deficiência na informação e/ou de alternativas das vítimas do modelo de produção adotado ainda são os maiores adversários da defesa do trabalho e da vida em condições seguras".

De acordo com a Associação de Engenheiros Agrônomos de Sapezal, somente na Unidade de Recebimento da cidade são recolhidas, anualmente, cerca de 600 toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos. O número ajuda a entender como Mato Grosso se tornou o campeão brasileiro na utilização desses produtos para o cultivo das lavouras.

Dados do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) revelam que, em 2013, 140 milhões de litros de herbicidas, inseticidas e fungicidas foram jogados nas lavouras, o equivalente ao consumo de 43 litros de veneno por pessoa no estado.

Além dos milhões de litros de veneno que são despejados na água e no solo, contaminando os rios e os alimentos e criando um grande passivo ambiental, há, ainda, os prejuízos causados pelo descarte incorreto das embalagens. "Aqueles que trabalham no recolhimento dos recipientes se transformam em vítimas, em razão das precárias condições do espaço físico e de higienização a que são submetidos".

 

Outro fator que causa preocupação diz respeito à aplicação do veneno nas lavouras. Desde abril de 2011, mais de 60 organizações que compõem a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida têm como uma de suas principais bandeiras o banimento da pulverização aérea de agrotóxicos no Brasil. Em maio de 2013, após uma tragédia ocorrida na cidade de Rio Verde-GO, quando um avião pulverizou agrotóxicos sobre uma escola, envenenando dezenas de crianças e funcionários, a entidade expediu uma nota de repúdio e reafirmou a necessidade imediata de proibir esse mecanismo que atenta contra a saúde da população. Até os dias de hoje, todavia, nenhum avanço pôde ser comemorado.

"Em um dos deslocamentos, a equipe presenciou um avião em atividade sobrevoando áreas do quintal de uma residência da zona rural, próximo à cidade de Sapezal. Isso exemplifica a dificuldade de fiscalizar a atividade nas vastas plantações da região", relata Daroncho.

O projeto, que também contempla a aquisição de modernos equipamentos para os laboratórios da UFMT, é custeado por meio de destinações de multas e condenações obtidas pelo MPT em ações judiciais.

Juruena

A Bacia do Juruena compreende aproximadamente 190.931 km². Situa-se quase que integralmente no Estado de Mato Grosso, exceto por uma pequena parcela que se insere no Amazonas (cerca de 5% da bacia) e em Rondônia (menos de 0,2% do município de Vilhena).

O curso do rio Juruena percorre uma extensão de 1.080 km até juntar-se ao rio Teles Pires, já no domínio amazônico, para formar o rio Tapajós, afluente da margem direita do rio Amazonas.

Informações: Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT)

Contato: (65) 3613-9152 | www.prt23.mpt.mp.br | twitter: @MPT_MT | facebook: Ministério-Público-do-Trabalho-em-Mato-Grosso

 

 

 

 

 

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