Debates intensos marcam audiência pública em Campo Verde

Evento sobre uso de agrotóxicos foi realizado no Tribunal do Júri do Fórum da Comarca da cidade

05/08/2015 - O cruzamento de informações sobre a origem de pacientes tratados no Hospital do Câncer de Mato Grosso mostra que grande parte deles vem de regiões com grande consumo de agrotóxicos. Os dados foram repassados pelo procurador do Trabalho Leomar Daroncho e pelo médico e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Pignati, na audiência pública que debateu o uso do produto nas lavouras mato-grossenses.

O encontro, organizado pelo Comitê Multi-institucional do Sistema Judicial de Mato Grosso, foi realizado na manhã da última terça-feira (04) em Campo Verde, a 127 km de Cuiabá. O evento contou com a participação de produtores agrícolas da cidade, de representantes de entidades ligadas ao agronegócio, de autoridades públicas, da sociedade civil e de moradores que lotaram o Tribunal do Júri do Fórum da Comarca da cidade.

Além da correlação entre os pacientes que desenvolveram câncer e as regiões com grande consumo de agrotóxicos no estado, foi assinalada nas apresentações a incidência maior, nessas mesmas localidades, de casos de aborto, partos precoces e má-formação do feto, além de outras doenças como a depressão. Os detalhes foram expostos pelo professor da UFMT, que se dedica ao estudo do tema há anos.

O representante do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MT), Walter Valverde, por outro lado, destacou em sua palestra que o uso dos agrotóxicos tem possibilitado o aumento da produção no campo e afirmou que pesquisas recentes viabilizaram a produção de defensivos agrícolas de menor impacto. Valverde defendeu, ainda, a intensificação do debate e o aumento de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada na busca por soluções e para ampliação das ações já realizadas.

Após as palestras, dezenas de participantes subiram à tribuna, tanto para defender a redução do uso de agrotóxicos e a transição para uma agricultura ecológica quanto para falar da importância dos produtos como ferramenta de aumento da produção. Alguns, inclusive, questionaram os dados que relacionam o surgimento de doenças com o grande consumo dos defensivos agrícolas.

Avaliação é positiva

Condutora dos trabalhos, a vice-presidente do TRT de Mato Grosso, desembargadora Beatriz Theodoro, avaliou positivamente o evento, em especial pela grande adesão da sociedade e predisposição ao debate.

Ela pontuou que, se de um lado há os efeitos do uso intenso dos agrotóxicos, do outro há também a consciência do Comitê de que seu uso possibilita o aumento da produção, trazendo riquezas para as populações e para o estado. “Cremos nesse projeto e em ações afirmativas, por isso convidamos a sociedade para debater esse assunto”.

O procurador do Trabalho Leomar Daroncho, em sua fala ao final da audiência pública, também se disse feliz pelo encontro. “O rico desse momento é o debate”, destacou ao comentar a exposição de pontos de vistas diferentes, algo que classificou como “próprio da democracia”. Para ele, o importante é criar um canal de informação e de discussão sobre o tema, que alcance a todos, inclusive os próprios produtores que empregam os agrotóxicos e que também são expostos a seus efeitos no campo.

O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e coordenador do Comitê, Márcio Vidal, salientou que o objetivo da audiência foi, em sua essência, promover a troca de conhecimento e de experiências entre os participantes, de ouvir os empresários do agronegócio, os produtores rurais e fazer a interlocução entre o conhecimento deles com os demais, inclusive o jurídico. “Não se está aqui assumindo uma posição de ser contrário a nada, mas sim de disseminar o conhecimento”.

Novas audiências

Dados compilados no Dossiê Abrasco, produzido pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, apontam o Brasil como sendo a nação que mais consome agrotóxicos no planeta, posição que ocupa desde 2009. O país demanda 19% da produção mundial e cada habitante consome cerca de 5,3 litros de veneno por ano.

Ainda segundo o documento, Mato Grosso é o estado brasileiro que mais consome o produto. São 180 toneladas todos os anos, uma média de 45 litros por habitante. Em cidades que têm no campo a principal fonte de recursos, o indicador chega a 400 litros por habitante.

Por esta razão, o encontro dessa terça organizado pelo Comitê Multi-institucional do Sistema Judicial de Mato Grosso não será o último. A entidade planeja realizar audiências também em outras localidades que se destacam na economia regional pelo intenso cultivo e, consequentemente, uso de agrotóxicos.

Informações e imagens: Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT)

Contato: (65) 3613-9165 | www.prt23.mpt.mp.br | twitter: @MPT_MT | facebook: Ministério-Público-do-Trabalho-em-Mato-Grosso 

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