MPT lança documentário “Vidas Marcadas”
29.07.2024 | BRASÍLIA No último sábado (27), Dia Nacional da Prevenção de Acidentes do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho (MPT) lançou o documentário “Vidas Marcadas: Os Impactos Humanos dos Acidentes do Trabalho”. O filme, que faz parte da campanha da instituição “Juntos por um Ambiente de Trabalho Seguro e Saudável”, apresenta depoimentos sensíveis de pessoas cujas vidas foram profundamente impactadas por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
O documentário tem o objetivo de sensibilizar o público e incentivar tanto trabalhadores quanto empregadores a adotar medidas preventivas no dia a dia das empresas. A obra busca despertar a consciência pública sobre os riscos enfrentados pelos trabalhadores em diversos setores, promovendo um diálogo sobre a importância da prevenção e da segurança no local de trabalho. “A cultura da prevenção, que é o que se busca alcançar, não se refere apenas ao local em que a pessoa trabalha, mas ao complexo de relações com as quais ela lida cotidianamente, transmitindo a ideia de que cada um é responsável por si e pelos demais”, afirma o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Cláudio Mascarenhas Brandão.
A narrativa do filme é construída a partir das histórias de três pessoas cujas vidas foram impactadas por acidentes do trabalho. Clodoaldo Godinho, que sonhava em ser jogador de vôlei, teve sua vida modificada por um grave acidente que resultou na perda das duas mãos após apenas doze dias de trabalho sem treinamento adequado. Clodoaldo se reinventou como técnico em segurança do trabalho e palestrante, compartilhando sua experiência para promover um ambiente laboral mais seguro. O caso de Clodoaldo confirma um triste quadro brasileiro: de acordo com dados do Observatório de Segurança no Trabalho (SmartLab), que consideram apenas registros envolvendo pessoas com carteira assinada, cerca de 15% dos acidentes do trabalho registrados nos últimos dez anos no Brasil foram causados por operação de máquinas e equipamentos.
Giseli Borges relembra a trágica história de seu marido Noel Borges de Oliveira, vitimado pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG). Noel Borges era um trabalhador terceirizado que, durante a cobertura das férias de um colega, realizava uma perfuração para medir a segurança da barragem quando esta se rompeu. Ele não havia sido informado de nenhum problema de segurança que impedisse a realização do serviço. Noel é uma das 272 vítimas deste que é considerado o maior acidente do trabalho do Brasil. Segundo a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão (AVABRUM), foram vitimados, no fatídico 25 de janeiro de 2019, 130 trabalhadores da Vale e 121 empregados terceirizados, além de 2 nascituros e 19 moradores e turistas.
Lídia Maria Bandacheski do Prado, agricultora de Rio Azul (PR), foi diagnosticada com intoxicação crônica por agrotóxicos aos 40 anos, tornando-se incapaz de trabalhar devido a diversos sintomas debilitantes. Desde 2015, Lídia trava batalhas judiciais contra a empresa responsável por sua condição. Seu depoimento evidencia os perigos muitas vezes invisíveis enfrentados por trabalhadores agrícolas e a urgência de medidas de segurança e saúde ocupacional no setor. O caso de Lídia, defendido pela advogada trabalhista Vania Moreira, exemplifica a difícil realidade enfrentada pelos agricultores familiares no Brasil, especialmente na fumicultura. Moreira destaca a necessidade de políticas públicas que protejam esses trabalhadores e reconheçam suas condições laborais adversas, enfatizando a importância da justiça do trabalho em garantir a reparação e a qualidade de vida dos afetados.
“Do ponto de vista jurídico, essa situação pode ser reparada processualmente através da responsabilidade objetiva nas indenizações pleiteadas. Essas indenizações incluem o que a pessoa deixou de ganhar, o que poderia ganhar até completar a idade normal de sobrevivência dos brasileiros, além do dano moral. Juridicamente, é necessário construir uma política pública que oriente o olhar da Justiça do trabalho para os menos favorecidos, como o agricultor e o fumicultor, que possuem uma relação de trabalho com a empresa não reconhecida”, observa a advogada.
O filme "Vidas Marcadas" traz para a campanha “Juntos por um Ambiente de Trabalho Seguro e Saudável" um poderoso catalisador de conscientização e promoção de um meio ambiente de trabalho mais seguro e saudável para todos os trabalhadores brasileiros. “A campanha é o braço da conscientização, essencial para introduzir, disseminar e fortalecer a cultura da prevenção, é a informação qualificada”, acrescenta o ministro Brandão.
A campanha
A campanha “Juntos por um Ambiente de Trabalho Seguro e Saudável” tem como objetivo conscientizar empregados e empregadores sobre a importância de adotar medidas para um ambiente laboral sadio. Iniciada em janeiro de 2024 por iniciativa do MPT, a campanha prossegue até o final de agosto. Em cada mês, um tema específico é abordado. Já foram trabalhados Riscos Psicossociais (janeiro); Setor Aeroportuário (fevereiro); Setor Industrial (março); e Construção Civil (abril); Setor de Transportes (maio) e Mineração (junho), e ainda estão previstos Agropecuária (julho) e Saúde e Serviços Sociais (agosto). Além disso, a campanha também já lançou um documentário sobre os impactos financeiros dos acidentes do trabalho. A campanha utiliza recursos atrativos como cards para as redes sociais, vídeos de animação, cartazes, infográficos e documentários com especialistas no tem e pode ser replicada por empresas e organizações gratuitamente no site.
Com informações da PGT
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